Poemas e poesias

Restos

Quando eu sinto vontade de te escrever, as palavras me vêm assim, tentando sair das entranhas.  Não como o sibilar do vento, que sossegado anda vadio por essas vielas. Mas como o mais frio dos projéteis. Rápidos, imprecisos, desordenados, assim como ficam as minhas ideias, quando ainda lembro de nós. As palavras se excedem dentro da minh’alma, e tentam escorrer como que implorando pra se esvaírem. São excessos, restos de coisas que precisavam sair.

Mas quantas são as coisas que te escrevi, e que nunca te mandei, e nem nunca vou mandar. No máximo vão ficar empoeiradas dentro d’uma caixa velha e barata, esperando guardar um dia alguma lembrança tua, feito um cartão-postal. Sabe que tenho ouvido muito a nossa música? Ela me faz lembrar de quando eu me despedi de você no meu apartamento já vazio, com as mudanças todas encaixotadas. Em meio a muita poeira, com a minha cabeça deitada no seu peito, eu me vi perdida. “Será que eu nunca mais vou te ver?”, pensei, – tão sábia.

Mas vou deixar de divagar, afinal, vamos estar sob o céu da mesma cidade por alguns dias, e se eu te vir, sei que você vai estar com um cigarro na mão, e com outra garota n’outra
uma que não te gosta assim, como eu te gostei tanto.

 

 

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